domingo, 22 de março de 2009

Amélia

Amélia não tinha a menor vaidade. Amélia é que era mulher de verdade.
Roberto era casado com Amélia. Roberto é que era feliz de verdade.
Ele costumava chegar do trabalho sempre as oito da noite, mas se numa sexta-feira de calor decidisse chegar as quatro da manhã, Amélia não reclamaria.
Amélia nunca acordava Roberto de madrugada para reclamar dos seus roncos que mais pareciam o som de porcos agonizando para morrer. Amélia deixava Roberto em paz quando ele queria passar o domingo todo coçando suas partes íntimas e vendo futebol, ela nunca falava nada contra. E quando acontecia de colocar o copo de cerveja suado em cima da mesinha de centro da sala, ela nem saia gritando pela casa.
Amélia era rara. Não era do tipo que passava horas discutindo a relação, e se Roberto fizesse alguma reclamação, Amélia simplesmente não respondia.
Enquanto passava horas no bar, seus amigos sempre voltavam para o fatídico assunto: mulher fala demais. Reclama da roupa jogada no chão, reclama da toalha em cima da cama. E mesmo que se jogue a roupa em cima da cama e a toalha no chão, certamente suas esposas continuarão reclamando.
Roberto tinha um grande amigo chamado Bartolomeu. Este vivia reclamando que sua mulher gritava alto demais.
- Alzira nunca consegue gritar baixo. E se eu digo isso pra ela, ela berra mais ainda. Eu não consigo entender – dizia ele tristonho.
Roberto saia do bar com um sorriso de um marido satisfeito no rosto. Mesmo com bafo de bêbado, marcas de batom e cheiro de cigarro, Amélia certamente não diria um “a” sobre isso. Ele dormiria feliz, como dormiu durante todos esses anos.
Enquanto no silêncio de sua casa vestia o pijama, Roberto pensava “Que bom que Amélia não é como Alzira”
Roberto se deixou levar pelo calmo sono. Nunca se arrependeu de ter se casado com uma mulher muda.

0 refletiram sobre isso: