domingo, 22 de março de 2009

A cabeça de Paulo coça

- Amor, agente precisa conversar. E é sério.
Paulo já estava acostumado com aquela frase. Conhecia Marta a cerca de 10 anos, tudo para ela era motivo para uma conversa muito séria. Desde a ameaça de uma Terceira Guerra Mundial até a extrema necessidade de comprar um novo sapato para combinar com aquela bolsa que lhe custou uma fortuna, tudo era de extrema importância. Marta era do tipo fútil, que não amadurecia, passasse o tempo que fosse, era sempre a mesma criança inconseqüente. Agora estavam casados, e apesar de ter escolhido uma mulher defeituosa Paulo estava feliz.
- Paulinho, tem alguma coisa acontecendo, uma coisa... Estranha.
- Você ta grávida?
- Não, na verdade eu acho que eu não te amo mais.
Paulo preferia a gravidez. Sem dúvida.
- Eu acho que, sei lá. Nosso casamento esfriou.
- Mas nós só temos um mês de casados.
Enquanto Marta jogava nele centenas de argumentos pouco convincentes, Paulo repassava rapidamente em sua mente todo o tempo que haviam passado juntos. Nada daquilo fazia o menor sentido, ele era um bom marido. Nunca teve reclamações sobre seu desempenho sexual, abria a porta do carro pra ela e, por vezes, até mandava flores e outros pequenos mimos. Paulo se casaria com ele mesmo, estava certo de que era um bom marido.
- Acho que falta algo no nosso relacionamento.
- Que tal um filho?
- Algo que precise de menos responsabilidade.
- Um cachorro!
- Pensei num amante.
- Amanhã eu compro o cachorro!
- Pense como seria bom ter mais alguém conosco... Na verdade, comigo. Porque você nunca vai conhecer o Raul.
- Raul? Quem é Raul?
- Estou totalmente a favor da coisa de comprar o cachorro!
Paulo dormiu com a sensação estranha de que algo estava acontecendo, ele não sabia exatamente o que era. Sua cabeça coçava. Coçava muito. Mais precisamente a testa.

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