domingo, 22 de março de 2009

Dignidade feminina

Há quem diga que o amor é cego, pois digo, ele não é. Na verdade o amor é burro e, em alguns casos, masoquista.
Numa dessas noites quentes, Joana demora mais do que habitualmente demoraria a chegar em casa. Seu marido a esperava sentado na cama do casal.
- Posso saber o porquê da demora?
- Claro meu amor. Foi o trânsito.
- Mas você nem trabalha de carro!
- Justamente por isso estou aqui, se viesse de carro ainda estaria presa no trânsito.
- O que?! Mas, que marca roxa é essa no seu pescoço?
- Lucio, você não vai acreditar. Entrei numa briga
- Você saiu na porrada? Com quem?
- Skinheads!
- Você brigou com uma gangue de skinheads?
Era demais para Lucio, levantou e começou a andar freneticamente pelo quarto. Joana parecia muito calma ao explicar os fatos.
- É lógico que não amorzinho! Eu não conseguiria.
- Mas...
- Foi um só! Mas foi horrível!
- E você sobreviveu?
- Logicamente meu querido, eu sou faixa rosa no judô.
- Não existe faixa rosa!
- Você já lutou judô?
- Não.
- Então me desculpe, mas você não sabe de nada!
- Você realmente acha que eu vou acreditar nessa história?!
- Eu é que pergunto meu amor! Você não vai acreditar que sua esposa faixa rosa no judô brigou com um skinhead?
- Não!
Joana começa a chorar teatralmente.
- Como você pode não acredita na sua esposa?
- Talvez seja melhor você não ser mais minha esposa. Eu quero divórcio!
Joana parou instantaneamente de chorar
- Ok!
- Só precisamos decidir como será feita a divisão dos bens.
- É simples! Metade pra cada um. Mas eu quero a metade maior!
- AHN?!
- Meu benzinho, foi você que pediu divórcio, vai ter que e dar pensão e tudo mais! Eu posso até alegar abandono de lar!
- Mas eu não abandonei o lar!
- Onde você esteve durante essa semana das oito da manhã até as seis da tarde?
- No trabalho!
- Se estivesse em casa isso tudo não estaria acontecendo. O nosso casamento fracassou e a culpa é sua!
- Parece que você queria que eu pedisse o divórcio!
- Claro que não. Eu estou arrasada!
Joana falava enquanto tirava as malas já feitas de dentro do armário.
- Eu amei nossos anos juntos meu querido. Você sabe o numero da minha conta, né? Se não depositar, vai preso!
Lúcio estava mudo.
- Já que estamos nessa onda de dizer a verdade, aproveito pra anunciar minha gravidez. Você vai ser papai ex-amor! Alguém vai ter que pagar pensão até o filhão fazer 21 anos! Foi um prazer benzinho, até a próxima.
Joana foi saindo com sua mala de rodinhas batendo em seu calcanhar. Da janela do quarto Lucio pôde ver Joana entrando no carro de um desconhecido.
Lucio teve a leve impressão de que estava sendo trocado por outro. Pelo menos Joana teve a dignidade de somente partir com outro depois de o casamento estar terminado.

0 refletiram sobre isso: