domingo, 22 de março de 2009

Finito

Naquela noite Marcelo decidiu extravasar. Beberia qualquer coisa que fosse mais alcoólica do que cerveja, pois esta somente fazia cócegas no seu rim. Chegaria em casa e daquela noite em diante tudo seria diferente. Seu casamento havia chegado num ponto insustentável, era chegada a hora de dar um basta.

- Marcelo, você está bêbado!
Marcelo não se sentia bêbado. Talvez um pouco tonto, com enjôos e com coragem para mandar o patrão ir para o inferno, de onde nunca deveria ter saído.
Talvez estivesse um pouco alto, admitia.
Pensou uns instantes em como sua sogra era uma mulher amável.
Ok, ele estava completamente bêbado.

Durante o mês que estava terminando Marcelo refletiu muito sobre o real significado do casamento. Ouviu relatos de amigos, conversou com colegas de trabalho, se abriu com os familiares. Fez de tudo que podia, nada conseguia mudar a sua opinião. Não vivia num casamento de verdade.
- Eu quero me separar!
Camila começou instantaneamente a chorar.
- Você é louco! Louco e bêbado!
- Marcelo concordava com o “bêbado”. O “louco” era conseqüência.
- Camila, você percebeu quantas vezes brigamos nesse mês?
- Nenhuma!
- Isso mesmo! Quantos casais você conhece que não brigam?
- Nenhum!
- Viu? Nosso amor está fadado ao fracasso! Cedo ou tarde vamos nos cansar de todo esse amor e essa felicidade. E você sabe o que vai sobrar?
Camila se sentia confusa demais para responder.
- FILHOS! Que irão viver numa rotina sufocante cheia de amor e felicidade por todos os cômodos da casa.
- Isso não me parece ser tão...
- E nas reuniões da escola. Quantos alunos vão ter os dois pais do lado? Eu respondo: quase nenhum. Nossos filhos estarão na minoria oprimida! E nem vai ter lugar pra nós dois sentarmos... ONDE AGENTE VAI SENTAR CAMILA?
Camila soluçava e ia parando de chorar.
- É, acho que você tem certa razão. Essa coisa de família feliz é mentira. É como dizem, casamento é uma instituição falida.
Fez-se o silêncio. E ele dizia muito.
- Eu te amo Marcelinho.
- Eu também te amo Camilinha. Amanhã eu vou encontrar um advogado pra dar entrada nos papéis do divórcio.
- Agente se vê no tribunal amor.
Naquela noite ela dormiu na cama e ele no sofá. Apesar de todos os pesares, ele descansou a cabeça no travesseiro e dormiu com um sorriso estampado no rosto e uma conclusão estampada na cabeça: agora sim estava casado.

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